Fazer um relato de uma experiência que tenha acontecido com você. Pode ser real ou ficctícia, mas deverá ser contata como verdadeira. Levar uma prova do acontecimento.
LÍVIA
Talvez Eu.
Talvez uma pastorinha.
Vou contar uma história de infância. Até os dez anos eu estudei em uma escola Waldorf. A pedagogia Waldorf valoriza a formação humana e completa da criança, por isso as matérias de artes são muito importantes. Sempre no final do ano a classe inteira faz alguma dança tradicional ou uma pequena peça de teatro. Todos juntos. Na quarta série, por exemplo, nós montamos uma adaptação do mito de Narciso. Antes da quarta série, no ano anterior se não me engano, fizemos a dança do pau-de-fita, uma dança linda e colorida. As crianças giram em torno de um grande tronco de madeira. Com várias fitas coloridas nós envelopamos o tronco, formando desenhos e formas. Mas a história que eu vou contar é sobre a Dança das Pastorinhas. Essa é uma dança tradicional só com mulheres. Existem dois grupos. As que vestem azul e as que vestem vermelho.
Elas dançam e tocam instrumentos como se fossem dois grupos disputando o mesmo espaço, o bosque ou um vale da montanha. Então formam-se dois cordões que dançam paralelos um ao outro. A professora dividiu as meninas, conforme as cores que cada aluna gostava mais. Mas ela disse também que existia uma pastorinha diferente. Uma pastorinha que não dançava em nenhum dos dois cordões, ela dançava sozinha, exatamente no meio. Ela não usava saia azul nem vermelha. Ela usava uma saia azul e vermelha. Uma saia com as duas cores. Essa pastorinha era quem possibilitava o diálogo entre os dois grupos. Ela podia apaziguar e tolerar as diferenças. O canto dessa pastorinha era sobre aproximações e não disputas.
No exato momento que a professora contou sobre essa pastorinha algo fez ‘Pééééin!!!!’ dentro de mim! Eu tinha que ser essa pastorinha! Uma vontade gigantesca de vestir essa saia azul e vermelha e dançar no meio dos dois cordões me invadiu como um furacão. Eu não consegui pensar em mais nada, só pensava em ser a tal pastorinha da tolerância. Foi quando a professora perguntou: “Quem quer cantar e dançar a pastorinha de duas cores?” Foi quando eu levantei a mãe. E outra menina levantou também... Não acredito! Tem mais alguém que quer... A professora disse, então, que nós duas dançaríamos num ensaio, e ela iria escolher depois quem ficaria com a pastorinha de duas cores. Nesse momento pensei: “Vou dançar tão lindamente, vou dar tudo de mim, eu preciso ser a pastorinha!”. Dito e feito. Eu dancei com muita alegria, toda concentrada e sorridente. E a pastorinha de duas cores ficou comigo.
JÚLIA
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